“Faz fé o texto proferido”

Presidente Lula da Silva,

Primeiro-Ministro Pedro Sánchez, Presidente Ilan Goldfajn, Presidente Sérgio Diaz-Granados,

É um grande prazer estar convosco aqui em Bruxelas. A cimeira de hoje marca um novo começo para a nossa parceria. Um novo começo que assenta em décadas de amizade. Os nossos dois continentes estão unidos por uma cultura comum, uma convicção partilhada na Carta das Nações Unidas e também pelo papel essencial desempenhado pelas empresas. As empresas digitais em fase de arranque da América Latina estão a expandir-se na Europa, em domínios que vão da IA à agricultura. As empresas latino-americanas produzem radioisótopos para tratamentos oncológicos nos hospitais europeus. Por sua vez, os investimentos europeus estão a criar empregos, de alto valor, na América Latina e nas Caraíbas — em setores que vão das finanças ao setor automóvel, dos produtos químicos à energia limpa. As empresas são o elemento vital da nossa parceria. Constroem as pontes que ligam os nossos dois continentes.

Há anos que estas ligações estimulam não só os fluxos comerciais e de investimento entre os nossos continentes como também a transferência de tecnologia e a cooperação técnica, bem como novos contactos interpessoais. Não obstante, existe ainda, na nossa parceria, um grande potencial inexplorado. É por essa razão que me congratulo com o facto de os dois dias da nossa cimeira começarem com esta Mesa-Redonda Empresarial.

Mais do que nunca, a América Latina, as Caraíbas e a Europa necessitam-se mutuamente. O mundo em que vivemos nunca foi tão competitivo e conflituoso. Ainda abalado pelo forte impacto da pandemia de COVID, o mundo está a sofrer os efeitos consideráveis da agressão da Rússia contra a Ucrânia. E isto no contexto da crescente assertividade externa da China. Quais são as consequências para os nossos dois continentes e, em especial, para as empresas? Precisamos de tornar as nossas economias mais resilientes aos choques externos. E temos de combater as desigualdades e a pobreza nas nossas sociedades. Isto significa que precisamos de parceiros em que possamos confiar. Queremos dialogar com investidores e parceiros comerciais, com países que partilham valores e prioridades comuns e que revelam ser fiáveis a curto e a longo prazo.

A Europa aspira a ser o parceiro privilegiado da América Latina e das Caraíbas, a mesmo título que optamos por ser um parceiro da região. Acreditamos que a Europa pode oferecer à região algo diferente e significativo. Temos um interesse mútuo em ver a América Latina, as Caraíbas e a Europa explorarem ao máximo todo o potencial. Partilhamos a vontade de ver as nossas indústrias crescer, as cadeias de valor locais desenvolverem-se e um número crescente de pessoas aderirem à classe média. Não queremos apenas fazer negócios em conjunto, mas também prosperar em conjunto.

Por todas estas razões, decidimos intensificar a nossa cooperação. Congratulo-me hoje por lançar a nossa agenda de investimento para a América Latina e as Caraíbas. Designamos essa agenda por Global Gateway. Sob a égide da Global Gateway, propomos que mais de 45 mil milhões de euros de investimento europeu de elevada qualidade sejam canalizados para a América Latina e as Caraíbas. Estão já em preparação mais de 135 projetos. Do hidrogénio limpo às matérias-primas críticas, da expansão da rede de cabos de elevado desempenho à produção das mais avançadas vacinas de ARNm. Só em conjunto poderemos chegar a acordo sobre os setores e as cadeias de valor a que deve ser dada prioridade e sobre a melhor forma de impulsionar estes investimentos por meio de competências, normas e apoio técnico. Aproveitemos, portanto, esta cimeira para moldar a agenda de investimento, em benefício de ambos os continentes.

Minhas senhoras e meus senhores,

a Global Gateway não só tem a dimensão para fazer a diferença como também delineia uma nova abordagem para os grandes projetos de infraestruturas. O investimento europeu pretende pôr uma tónica reforçada na criação de cadeias de valor locais. Juntos, podemos construir cadeias de abastecimento resilientes. O importante é que o valor acrescentado permaneça na América Latina e nas Caraíbas — e isso também é do nosso interesse. Permitam-me que vos dê dois exemplos: o hidrogénio limpo e as matérias-primas. A América Latina e as Caraíbas têm capacidade para se tornarem uma potência mundial no domínio das energias renováveis. Os vossos setores da energia eólica e solar assistem a um crescimento exponencial, também graças ao investimento europeu. O próximo passo natural consiste em transformar a energia limpa em hidrogénio limpo. Por um lado, o hidrogénio limpo pode ser facilmente exportado para outros continentes. Por outro, e crucialmente, o hidrogénio limpo também pode alimentar novas indústrias no vosso continente. Imaginemos um cenário de aço limpo e betão limpo, de fertilizantes limpos, de comboios e autocarros limpos — todos eles fabricados na América Latina. O vosso continente tem potencial para ser um líder mundial das indústrias limpas de amanhã.

Segundo exemplo: para utilizarem tecnologias ecológicas e digitais, as nossas indústrias precisam de ter acesso a matérias-primas essenciais. Também aqui a Europa quer ser o vosso parceiro de eleição. Ao contrário de outros investidores estrangeiros, não estamos apenas interessados em investir na mera extração de matérias-primas. Queremos colaborar convosco para criar capacidades locais de transformação, de fabrico de baterias e de produtos finais, como os veículos elétricos. Além do investimento, podemos contribuir com tecnologias de craveira mundial e uma formação de elevada qualidade para os trabalhadores locais. Este é precisamente o tipo de investimento para o qual criámos a Global Gateway.

Minhas senhoras e meus senhores,

a Europa pretende lançar uma nova parceria com a vossa região. É por esse motivo que a cimeira de hoje é tão importante. É a primeira reunião em oito anos entre os líderes dos nossos dois continentes. Pretendemos debater, entre outros aspetos, uma agenda de investimento partilhada para a América Latina e as Caraíbas. Precisamos de saber quais são os setores que consideram prioritários e de perceber quais são os obstáculos que nos cabe superar em conjunto. Para que a Europa possa investir exatamente onde a América Latina e as Caraíbas mais precisam. Trata- se de um novo começo para velhos amigos, um desafio para o qual temos de unir forças.

Desejo-vos uma excelente mesa-redonda. Bem-vindos a Bruxelas.